Creio que o
fato aconteceu com o escritor italiano Giuseppe Tomasi de Lampedusa (1896-1957).
Ao se dirigir a uma plateia de jovens, perguntou-lhes quem deles já lera a
Odisséia. Quase ninguém se manifestou. Perguntou quem já havia lido a Divina
Comédia, de Dante. Pouquíssimas pessoas outra vez se apontaram. E continuou
perguntando sobre o conhecimento da plateia pelas obras clássicas, sempre com
pouquíssimas respostas. Ao final das perguntas concluiu: ”Que maravilha! Quanto
prazer vocês ainda terão na vida!” Essa é uma vantagem da ignorância: poder
conhecer. E ir aos poucos conhecendo a técnica do stop motion foi com certeza
maior prazer que tivemos em nossa empreitada. O conhecimento libera e estimula
a novos voos.
Começamos com bonecos estruturados
em arame, mas eles não resistiram ao enorme número de torções a que foram
submetidos. Partimos então para um boneco construído em madeira e com
articulações de metal. Este resistiu melhor, mas a madeira desgastava-se
rapidamente nas articulações e necessitavam contínuos apertos para permanecer
na posição e ser fotografado. E não possuía a precisão necessária para fazer o
conjunto de fotos resultar num movimento fluente da personagem. Estudamos na
internet estruturas de bonecos articulados de aço, chamados armaduras. E o
Primo Gerbelli (que desenhou os personagens, construiu, desenhou os cenários e
foi cenotécnico e animador do curta) resolveu estudar sua construção. Aprendeu
a manipular a solda prata e conseguiu um boneco de aço, articulado e plenamente
satisfatório.
O passo seguinte foi tentar
descobrir como conseguir um movimento fluente e natural dos personagens, sem os
inevitáveis “pulinhos” de um frame a outro. Esse foi um estudo difícil e que
consumiu muito tempo de discussões e testes. A conclusão geral que chegamos é
que quanto menores os movimentos fotografados mais fluência de movimento
teremos quando juntarmos os frames. Mas isso vai depender da cena, do
personagem e da velocidade. Uma cena mais rápida precisa de menos
frames/movimentos do que uma cena calma ou contemplativa.
Parte da cenografia pronta, personagem construído, equipamento técnico preparado, estávamos prontos para começar a errar. E a aprender com os erros.
Parte da cenografia pronta, personagem construído, equipamento técnico preparado, estávamos prontos para começar a errar. E a aprender com os erros.
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