sexta-feira, 5 de julho de 2013

A HISTÓRIA E A NARRATIVA

Um roteiro é uma espécie de mapa, uma carta de navegação da viagem que é fazer um filme. É fundamental, mas não é mais que isso. Um roteiro diz respeito à história e só começa a se tornar filme a partir da decupagem. É nela que se começa a construir as imagens de um filme. E foi durante o processo da decupagem que um outro elemento começou a se impor: a narrativa. Como vamos narrar essa história? Esta é uma pergunta extremamente ampla e importante, pois as respostas a ela vão se refletir em todo o processo de produção do filme. Em nosso caso, por exemplo, pretendíamos a princípio utilizar uma filmadora como forma de ganhar tempo na captura das imagens. Mas ao refletir sobre a narrativa a ser impressa ao filme rapidamente optamos em utilizar integralmente o stop-motion, por mais demorada que seja essa técnica. Achamos que o filme devia ter uma unidade, quer em suas qualidades ou em seus defeitos. Passou pela nossa cabeça também utilizar fundos reais previamente gravados para as cenas. Essa ideia também não resistiu a uma segunda reflexão e resolvemos capturar todas as imagens em estúdio. O que foi melhor porque, no mínimo, poupou-nos dor de cabeça em adequar o fundo ao primeiro plano da cena no processo de edição, além de dar um caráter artesanal a todo o filme. A narrativa de um filme envolve inúmeros aspectos, desde vislumbrar o ritmo a ser impresso ao filme até o material a ser empregado. 


Uma proposta importante, por exemplo, foi trazida por nossa diretora de arte, Diana Gerbelli. Ela sugeriu que o material cenográfico tivesse como base tecidos. Árvores, montanhas, arbustos, deserto foram construídos em tecido o que deu um aspecto lúdico e colorido que o filme pedia. Outra decisão importante foi com relação ao material utilizado na construção dos bonecos. O animador e construtor dos bonecos Primo Gerbelli insistiu na utilização de materiais naturais para os três bonecos: lã, madeira e barro. Apesar das dificuldades que encontramos com a manipulação com tais materiais durante a captura das imagens, o resultado final mostrou o acerto da decisão, pois conseguimos uma textura e veracidade que dificilmente seria possível com látex e outros materiais sintéticos.

     Enfim, ter clareza da narrativa que se pretende imprimir ao filme é fundamental na busca de um melhor resultado, pois acredito que um filme se constrói, antes de qualquer coisa, na imaginação.  E quanto mais claro o filme estiver em nossa imaginação, melhor ele será capturado no set e melhor estará no DVD.

Primo Gerbelli, montanha e deserto de tecido. 

Os personagens auto construindo-se em barro

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